terça-feira, 24 de julho de 2007

:: FIDELIDADE ::

Por não saber por onde avançar,
Não entender o que quer aguardar,
Por tudo que hesita desvanecer...
Eu odeio você.
Eu só odeio você.

Por tragar a minha inocência,
Fazer do meu amor essa ausência,
Por oprimir meus versos sem saber...
Eu odeio você.
Eu só odeio você.

Por preservar sua essência infeliz,
Esses dias que nos tornam tão hostis,
Pelo abandono que me fez esmorecer...
Eu odeio você.
Eu só odeio você.

Por penetrar no azul da inconsciência,
Escurecer na alma sua influência,
Por evitar em mim seu amanhecer...
Eu odeio você.
Eu só odeio você.

Por arruinar a minha confiança,
Desmerecer a nossa aliança,
Que me comove com certa relevância...
E eu nem sei por quê!
Eu só amei você.

Eu odeio, odeio você...

terça-feira, 17 de julho de 2007


:: ESTÁ EM MIM ::

O que está atravessado em mim
Não me remete, nem se enaltece...
Desmorona os meus vigores,
Sempre alerta às minhas dores.

O que está atormentado em mim
É como um mal necessário...
Faz de mim esse desconsolado.
Inapto aos novos sermões.

O que está isolado em mim
Agora enrijece as minhas mãos.
Suplanta os rumores dessa sensação
Que influi nas veias dos meus ais.

O que está desvirtuado em mim
Não obedece a norma dos conflitos.
Avança na esteira do destino
Sem temer os percalços do caminho.

O que está corroído em mim
Tem o gosto de transgressão.
É como uma revanche do coração
Subestimado na sua integridade.

O que está sangrando em mim
Vai escoar os versos e inverdades
Entornados no cálice dos teus lábios
Que imortalizaram o meu espanto.

O que está mudando em mim
Tem a nuance de um desencanto.
É como se eu acordasse antes
De um sentimento que previ...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

:: QUEM DE NÓS? ::

Quem se atreveria retroceder
Sob a influência de um olhar dorido,
Desviado do amor, nem comovido,
Diante de tamanha singularidade?

Eu enxerguei você se encaminhar
Para a noite dos seus novos anos
Onde as estrelas intactas, conspirando,
Luziam imóveis nos meus olhos.

Quem sentiria tamanha impiedade
Em atravessar a lâmina da razão
Desfibrando um neófito coração
Alheio às horas dos seus dias?

Você solveu me riso com magia
Sem prever as matizes do meu jeito.
E tomou do meu universo em degelo
As cores que me causavam receio.

Quem estenderia estranha emoção
Que vai de um para o outro
Onde fenece a mesma vontade,
Onde se rouba o mesmo tesouro?

Eu fracassei nos seus estados.
A Lua, para sempre, dorme no seu halo...
Numa paz sem proclamações,
Inimaginável às nossas paixões.

Quem relutaria erguer a mão
Minando como uma doença
Os graus de uma quintessência
Alcançada por dois corações?

Você se elevou sobre as ruas.
As luzes da cidade são tão frias...
Sua lembrança me resgata nas avenidas
Que a arquitetura da dor me impõe.

Quem tornaria no último momento
Quando duas vozes fluindo no vento,
Se propagam velozes, sem rastro,
Numa direção desconhecida?

Quem de nós dois foi o suicida?

quarta-feira, 25 de abril de 2007

:: GUARDA-CHUVAS ::

Nessa estação em que me embaraço
Não há sequer um indício convincente
Nas vezes em que espero, reticente,
Por um gesto, uma reação ou um fato.

Falamos de filosofia e suas incongruências.
Das epidemias e suas inconsequências.
Do fascínio da música e da poesia.
Não, não era isso o que pretendia...

Noutra tarde, transgredi com um rubor
Quando ousei mencionar sobre o amor.
Um frio repentino e um arrepio
Foi tudo que teu olhar me provocou.

Será que o inverno e seus rigores
Transtornou o teu contemplar
Sobre as coisas que te segredam
De uma maneira extenuante?

Nesses dias sinto-me destoante
Esqueço dos princípios que defendi.
Aplaudo verdades que desacredito em mim.
Um estranho impulso de preservação...

Que embota e esfiapa sensações
Causando-me uma calma ilusória
Que jamais acorda, somente cora
No breu do meu sentir sem voz.

Por persistir esse receio feroz,
As mentiras são inimigos domesticados.
Eu meço meus modos do seu lado
Como se evitasse um terrível desfecho.

Depois, avançando como quem não devia,
Beijo no seu rosto a minha heresia
Desvirtuada de lamento e pranto,
Sufocando um riso que te causaria espanto.

Quando trovões retumbam as investidas,
É você quem some nas pupilas miúdas
Desferindo essa solidão fecunda
Onde arde a chuva, cai a chuva...

segunda-feira, 23 de abril de 2007



:: UTILIDADES DOMÉSTICAS ::


O Despertador me indagou há pouco
Se existiria alternativa aos sonhos

Que eu cansei de perseguir.


O Rádio de Pilhas me aconselhou
Que durante esses dias medonhos
Será preciso reaprender a sorrir.


Mesas, tombem nesse lugar!
Tapetes, por onde caminhar?
Casa, não há janelas para abrir...

Perguntei a Lavadora de Louças

Se há alguma coisa que eu possa

Carregar sem macular.


A velha Geladeira me consolou,

Lembrando que tudo em volta
Poderia se descongelar.

Garrafas, aliviem minha sede!
Freezer, o que preservar?

Casa, não há ninguém por mim...

O chuveiro elétrico me eriçou os pêlos
Surpreendendo o meu corpo inteiro
Que não esperava se sensibilizar.

O computador formatou meus desejos
Espalhando por aí meus anseios

Que a cama não conseguiu sustentar.


Estante, mate a minha fome!
Espelho, reflita minha alma!
Casa, cansei de resisitir...


A TV me sussurrou ao amanhecer,

Descolorida diante de mim,

Que já não seria tão fácil fugir.

A taça girando sobre o tapete
Tilintou que no outro dia
Tudo aquilo poderia se repetir.

Sala, com quem dividir?
Quarto, está tão frio aqui!
Casa, não me tranque em mim...

domingo, 22 de abril de 2007

:: OFF-ROAD ::

Eu parti em busca de novas aventuras.
Percorrendo cidades, estradas, ruas.
Desbravando caminhos insondáveis
Sob domínio dos meus sentimentos.

Conheci um rapaz, assim como eu,
Onde em seu íntimo havia o mesmo intento.
Com seu dedo em riste, cabelos ao vento,
Apontou-me em direção ao peito e disse:

- Não é fantástica essa incrível coincidência?
O meu trajeto termina onde o seu se inicia.
Amigo, siga em frente por essas colinas...
Se o meu amor encontrar, diga-lhe que resisti!

Sacudi os meus ombros em reclusão.
Segui adiante, sem rotas, sem noção.
Encontrei um viajante bastante experiente
Que me aconselhou, parecia contente:

- Meu bom rapaz, não se esqueça de acentuar
Quais os limites que poderão te desviar
Caso o caminho não se mostre por inteiro
E suas escolhas deságüem num atoleiro...

Um tanto alerta, prossegui pelas paragens.
O sol se pondo remetia a certas miragens...
As lágrimas da noite também ardem!
Ultrajado, resolvi recolher as fogueiras.

Eu mergulhei na imensidão de uma campina,
Os insetos me costuravam, tão velozes...
Um pio, tão triste, ecoava dos bosques
Onde muitos se perderam das suas rotas.

Na lagoa, as folhas tremiam ignotas
Enquanto eu naufragava naquelas águas.
Meu corpo inteiro gemia na minha mágoa
Porém, a alma mostrou-se estar em forma.

Outro dia despontava no escuro em prontidão.
No meu rastro, a noite mergulhada em seu ventre.
Acabei por ouvir uma outra voz, estridente,
Que da janela ouvia-se sem interferências:

- Não é incrível essa estranha coincidência?
O meu trajeto termina onde finda o seu!
Amigo, retorne ao que te pertence...
Lá, adiante, há uma dor que extermina!

Antevi meus limites, era o fim da estrada.
Fugir não era uma honrosa façanha.
Aqueci meu motor para uma nova guinada,
Resgatando-me assim de profunda lama.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

:: HARE ::

Hare, o que você fez de mim?
Sua vontade ecoa como um clarim
Seja nas montanhas dos meus sonhos
Ou nos acessos da minha consciência.

Hare, as suas cores são mais intensas
Comparadas a esses seres nublados.
Meus amigos estão apenas preocupados
Em viverem suas vidas amenas.

Hare, que me surgiu como um Sol
Nas frias horas da minha insenção,
Onde condenava-me num vôo solitário
No abismo homogêneo da multidão.

Hare, foram as luas de Júpiter
Que combinaram no céu essa revolução.
Seus ritos resgataram o meu coração
Da poeira intrigante da solidão.

Hare, os frutos dos meus cílios
Não alimentam mais as horas veladas.
Os seus reflexos na minha íris
Tornam mais claras essas madrugadas.

Hare, sua nitidez é transgressora.
Justamente ela me incapacita,
Quando a carne treme, opressora,
De devastar os detalhes que encantam.

Hare, repouso tão bem na sua alma...
Sinto orgulho do caráter que ressalta
Sua delicada nuance redentora
Que resulta nesse romance tenaz.

Hare, onde o meu amor se refaz...
No seu peito fixei o meu eixo.
Sinta esses versos como um longo beijo
E descanse em paz.

terça-feira, 17 de abril de 2007

:: EFEITOS ::

Indolente, ao sabor das letras,
Sua ausência se impõe nesses traços,
Aludindo a comoção que não perfaço
No rígido cimento dos sentimentos.

Seu respeitável dom de fascinação,
Indestrutível, abranda meu coração,
Questionando as emoções influenciadas
Pelas minhas experiências desastradas.

Sei que meu repouso seria bem melhor
Nos arcos sutis das suas sobrancelhas.
Seus olhos, escorregadios, transluzem
No azul tardio das minhas olheiras.

É cômico e não menos comovente
As manias de amor que me circundam.
Há encantos em atos que não supunha.
Você me desfaz num ser mais lúdico.

Até o inverno toma ares românticos.
Eu sorrio para acompanhar o seu ritmo.
Eu aspiro o ar dos seus artifícios.
Esse instinto protetor que aflora...

Coincidências místicas lideram agora.
No futuro reforço o que até duvidei.
Você transcende os amores que eu amei
E, apesar de tudo, isso soa tão bem!

Mas nessa promessa ainda não há voz.
É tão estúpido restarmos tão sós!
Meu silêncio é causa dos seus efeitos.
E seus efeitos condicionam os meus meios...

sábado, 14 de abril de 2007


:: CADAFALSO ::

Escrevi sobre as memórias infindas
Dos complexos romances postergados.
Eu imaginei a tristeza das meninas.
Senti os desejos desmoronados.

Conjuguei os verbos dos meninos
Refletindo suas emoções imperfeitas.
Desferi sobre o abandono nas esquinas
Onde as juras quase todas são desfeitas.

Tremi ao retratar uma jovem mão
Sinalizar sozinha num frio cortante.
Eu deduzi a cor de uma paixão
Em escrupulosos vestígios românticos.

Desejei nesses tempos instantâneos
A chance de deter essas sentenças.
Buscando um jeito mais apropriado
De te livrar das minhas reticências.

Nesse esforço da criação poética,
Eu fracassei na nossa experiência...
Ainda que o perfume dos meus versos
Inspire o meu amor nas suas crenças.

Agora ganham um estranho sentido.
De repente, vejo-me num cadafalso.
Minha poesia arde em teu último juízo
Que me condena aos versos que faço.

sábado, 7 de abril de 2007


:: COBAIA ::

Sem se importar com suas convicções,
Meus nervos se exaltam condoídos
À procura de regalo nas emoções
Que os seus têm desconstruído.

Comparada com o fardo do seu estado,
Minha ânsia se confunde com desespero.
Falta-me uma medida de realidade.
Estou sempre revivendo o nosso enredo.

Eu vigio seus horizontes virtuais.
Medito na espera dos seus impulsos.
Outro dia mudei o meu itinerário
Apenas para estar em seu percurso.

Inseguro, eu simulo um ar esnobe.
Finjo mil vezes que não me interesso.
E você nem sequer se comove!
Pois basta um sorriso... eu regresso.

Quando há um encontro acidental,
É impressionante como você se comporta!
Invejo a sua incrível capacidade
De me atravessar como uma porta.

Eu que me julgava experiente!
A quantidade não me legou sabedoria.
Hoje sinto a mediocridade de almas
Que simularam a minha alegria.

Aprendizado igual a esse nunca se esquece.
Você é minha condição extraordinária.
Eu que premeditava ser o seu mestre...
Acabei me transformando em sua cobaia.


:: SE VOCÊ ME AMASSE ::

Se você me ama...
Ouça a insensatez dos seus desejos.
Confronte a tirania dos receios
Imposta nessas solidões estagnadas.

Se você me ama...
Alivie as emoções impressionadas.
Liquide a timidez que nos arrasta
Às nossas previsões e infâmias.

Se você me ama...
Ponha abaixo a lei das suas ânsias,
Se entregue ao sabor das circunstâncias.
E compartilhe o dever de ser feliz.

Se você me ama...
Neutralize seus humores hostis,
Semeie sua força num abraço,
Apague sem pudor velhos traços.

Se você me ama...
Respeite a experiência do seu sonho.
Não fuja nesses tempos tão estranhos,
Nem tema a dor dos seus efeitos.

Se você me ama...
Não ouse reproduzir os meus defeitos.
Conforte esses olhos vermelhos,
Náufragos nas lágrimas em realce.

Se você me ama...

Se você amasse...

terça-feira, 3 de abril de 2007



:: ILHAS DO ATLÂNTICO ::

As portas vibram nos cômodos vazios
Evadidos da sua presença constante.
Cruzar esses vãos é tão terrificante...
Aquarelas retratam meus novos declínios.

Superar-se é uma virtude bem difícil.
Constatações se confundem com desvarios.
Como dói essa carta em minhas mãos...
A saudade faz de mim o seu princípio.

Não suporto sequer ouvir uns discos.
Toda canção é como um hino de lástimas.
Sua gata mia fitando minhas lágrimas
Que desbotam suas gavetas vazias.

Seu sabonete derrete ainda na pia.
O fio dental esfiapa-se no colchão.
Sobras peculiares da nossa rotina
Que hoje ganharam uma nova dimensão.

Até uma mancha num velho calção
Soa como uma revelação divina!
E logo te encontro nas boas lembranças
Das nossas carícias vespertinas.

Então o futuro toma ares tirânicos.
Nós somos uma promessa desvirtuada.
As lágrimas... são muito mais amargas
Nesse lado dormente do Atlântico.

sexta-feira, 30 de março de 2007

:: DE UMA LETRA SÓ ::

Aleatoriamente eu revolvo
Remotas páginas consumidas
De um roto diário particular.

Alguns nomes e endereços
Refugam a poeira do tempo
Onde a mente hesita resgatar.

Apreendo umas folhas frouxas.
Ali, reencontro algumas notas
Que havia escrito sobre D.

De desejos velados.
Dos desencontros marcados.
Da demorada pulsação.

Ironizo-me e sigo então.
Eu me excito sem saber por quê
Ao me recordar da letra B.

Dos blefes sentimentais.
Das bocas abismais.
Da boemia homérica.

Folheio sem dialética,
Removendo dobras que aparecem,
E, distorcido, eu lamento em F.

Das fantasias literárias.
Das fraquezas ordinárias.
Da febre dos nervos.

De vez em quando a gente teme.
Algumas folhas passaram em branco...
Desertado, eu me desfaço em M.

Das maneiras tirânicas.
Das mudanças românticas.
Das mágoas inermes.

As minhas mãos adormecem.
Não há ninguém entre S e Z.
Retornando, tropeço em P...

Das ponderações racionais.

Suas prudências sentimentais.
Das prerrogativas inconseqüentes.

A ordem dos nomes não importa.
Restou um rabisco em letras tortas,
E, confundido, eu me apago em J.

Dos juízos desmoronados.
Dos júbilos poetizados.
Da juventude em deformação.

As páginas desabam das minhas mãos.
Melhor superar esses delírios vãos
E transcender essa memória de idílio...

De emoções esmiuçadas
Das escolhas transtornadas
Desse Exílio.

quinta-feira, 29 de março de 2007


:: CÉU VERMELHO ::

No limiar dos meus juízos imperfeitos,
Contemplando a realidade indiferente,
Você ousou se inserir na minha mente
Transviando esses meus olhos contrafeitos.

Indecifráveis, os seus modos insuspeitos
Diluíram-se nas águas da minha alegria,
Inoculando uma euforia repentina
Que jamais calculei os seus efeitos.

Em seus olhos oblíquos, na boca traçada...
A minha natureza está toda condensada
No álibi febril do seu enigmático rosto,
Nos músculos comprimidos do seu corpo.

O poder da beleza, sua consagração,
Nos seus nervos frios esnoba a paixão
Que ultrapasso sem medir suas instâncias,
Numa gana que não conhece distâncias.

Basta uma mecha nos olhos deslizar,
Ou suas mãos na cintura descansar,
Que meus membros reagem em sintonia
Como se fossem reais suas fantasias.

Mas eu não tenho seu telefone.
Você pronuncia errado o meu nome.
Sempre em companhia de outros homens...
Como eu defenderia meu coração?

"O meu lar é um céu vermelho..."
"Eu tive de vender os meus cabelos..."
"Por isso faço do meu corpo um puteiro..."
"Solte minhas mãos e leve esse retrato."

Agora as réstias têm o seu formato.
É você as sombras no meu quarto,
As que se formam no corpo do travesseiro
Onde padeço na insônia dos meus desejos.

sexta-feira, 23 de março de 2007



:: O ANO DO PORCO ::

Horas silenciosas em minhas fronteiras
Sem quaisquer lições para reportar,
Sequer um desejo para confrontar,
Tão ineficazes no meu discernimento.

Só sensações pairam no íntimo orbe.
O frio por um acaso na escuridão...
Os lábios que roçaram nas minhas mãos...
Da noite tomada no seu último toque.

Ecoa tudo, esse tempo é de morte!
O sabor na xícara é da minha fusão.
Perdemos as horas, estamos na contra-mão
Do destino projetado em nosso riso.

Talvez me suportar seja preciso.
Hoje nem lembrei com que sonhei...
Joguei todo lixo fora, também meditei.
Já inexiste seu nome no pó da estante.

Ah, esse coração principiante...
Acordei nas lembranças em que adormeci.
O gosto da rotina faz você persistir.
Na ausência você vibra mais em mim.

Os jornais são delírios anunciados
Com folhas repletas do seu nome popular.
Nos Classificados, fico a devanear...
No meu leito há um perfume inviolado.

É que sinto falta de ser amado...
Procuro revoluções no meu horóscopo,
Qualquer frase de efeito que me surpreenda,
Que me rasgue no peito essa sua influência.

Em letras graúdas, uma manchete anuncia
A profecia bem-vinda do Ano do Porco
Onde vaidade e amor não se conjugam,
Felicidade e rancor não se recheiam.

Esgotado nesses limites que desnorteiam,
Ponho já toda minha fé nessa predição...
Confio mais num porco que na solidão!
E faço desse ano a minha redenção.

quarta-feira, 14 de março de 2007


:: AOS TÍMIDOS ::

Entre atos envenenados de relutância,
A timidez sonega os nossos desejos
Contaminando expectativas sustentadas
No corpo frio dos nossos receios.

Insistimos na métrica da resistência.
De um lado, você flerta com parcimônia,
No outro, eu recordo minha insônia...
E assim simulamos nossa inocência.

Quando um golpe de dúvida nos captura,
Nunca ousamos reagir diferente.
Nós naufragamos no fosso da gente
Acorrentados numa frialdade soturna.

Nossos ombros fraquejam nas armaduras.
Qualquer gesto em falso é encantamento.
O que restará nas órbitas dos olhos
Quando o instinto se rebelar a contento?

Eu me idealizo na sua aura hipnótica.
Você me sorve em bílis negra com vodca.
Os desejos se apegam em vis detalhes.
Sabemos da trágica arte dos covardes...

Mais trágica ainda essa coincidência
De me reconhecer nos gestos que te apanham,
Na embriaguez dos olhos que se abandonam
Numa absorvente sombra de solidão.

Eu suspiro e tudo parece em vão.
Que maldita sina essa a dos cínicos!
A nostalgia de romper os laços...
Essa incapacidade de manter os vínculos...

domingo, 11 de março de 2007


:: VILANIAS ::

Quando a razão faz de nós dois oponentes,
Quando transformo você em meu alvo,
Minhas ressalvas soam tão inconseqüentes,
Eu me entrego a esse poema acidental.

O gosto nos lábios tem caráter inconstante.
Nós construímos mil enigmas sentimentais.
O que é acaso não distrai como antes.
Os nossos pares são deslizes amorais.

Nesse meu jeito há uma dor lancinante...
Na tua sombra prevejo uma cor mordaz.
E se um encontro se estabelece inebriante,
Os nossos corpos se intumescem como rivais.

O teu desejo me descontraiu, era proibido!
Também aos outros você fingiu intensamente?
Eu me iludi no véu das suas vilanias.
Na perspicácia do seu olhar irreverente.

Quando a mágoa fez de mim um combatente,
Eu resolvi dos seus abraços me libertar...
Você sorriu na travessia do meu sentimento.
Agora vive nesses versos a se vingar.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007



:: RESFRIAMENTO GLOBAL ::

Não reagem mais aqueles jardins.
As flores todas se desconstróem.
Essa meia-noite que tarda em mim...
Ardis, os minutos não se comovem.

Venho só, venho só com meus ais.

O asfalto fuma os nossos olhos.
O pensamento vive a nos tragar.
Ventos agarram-nos quase mortos...
Aos pés, coragem a se fragmentar.

Venho só, venho só com seus sinais.

As cartas partem fumegantes.
Seus destinos revelam-se surreais.
Nem o frio é frio como antes!
Nossas promessas são desiguais...

Venho só, venho só com meus ais.

O fogo grita, a chama se apaga.
As idéias queimam sem crepitar.
Àquela Lua, qualquer luz que valha,
Somente cega, sem me elucidar.

Venho só, venho só com seus sinais.

O sal da Terra escorreu dos dedos.
A minha sede poderia se saciar?
Tenho um desejo: eu sinto medo.
Na garganta seu nome a soluçar...

Venho só, venho só com meus ais.

Eles falam de aquecimento global...
Não era de calor que tínhamos fome?
Entre nós há uma comoção glacial.
Nosso demônio tem um outro nome.

Venha Sol, venha a nós com seus graus.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007


:: FANTASIADO ::

Lá vem uma multidão em blocos,
Com suas cores e seus invólucros.
A orquestra é de encher os olhos.
Ponho uma máscara e me mostro.

Que rito é esse que lhes contagia?
Olhem a alegria da velha menina!
Vejam o rapaz com outro nos braços!
Tudo passa e todos se sabem.

Rodopiamos ao som de um trio.
Há serpentinas, há explosões
Saudando o brio do nosso riso
Numa avenida elétrica de ilusões.

Mãos para cima, me dá um beijo!
São velozes as cores nesses olhos.
Exagere a tinta no seu enredo
Enquanto apago esses meus modos.

Nosso estandarte é cor escalarte.
Ele é tão leve quando em comunhão...
Há tanta gente, aonde vão?
Vê se me carrega pela tua mão!

A curtos passos, sempre em frente.
A Gata samba seu ritmo adolescente,
Cachorro freva seu apelo inconseqüente,
Enquanto dançamos de um modo diferente...

O Pierrot chorou, Colombina se calou.
Quem se importa com essas heresias?
Por hoje, nem tempestade nos abafa!
Não vamos rasgar nossas fantasias.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007




:: EXCEPCIONAL MENTE ::

Moveu-se como num jogo de tabuleiro,
Deixando-me neste espaço limitado.
Adicionou-me, multiplicou-se e subtraiu
Todo o amor proclamado em seu teatro.

Enigmas são vestígios dos seus atos.
Meu coração: um cálice derramado.
Gerou-me um sentimento complicado.
Escrevo agora buscando o seu retrato...

Sim, as paisagens são áridas.
Os caminhos são ávidos.
Você foi um presságio
Das revoluções tropicais.
Daquilo que fui incapaz.
Uma excepcional mente.

Seguiu uma rota desconhecida
Misturando na memória outros odores.
A jornada quase me foi interrompida
Nesse tempo de esperas e dissabores.

Pensava que conhecia seus ardores,
Suas idéias, segredos e temores.
Parecia que seu universo me inseria...
Céus, como dói uma fantasia!

Sim, as paisagens são áridas.
Os caminhos são ávidos.
Você foi um presságio
Das mutações tropicais.
Daquilo que sou incapaz.
Uma excepcional mente.

Sem me deixar uma indicação,
Partiu no alvorecer das cores.
E tudo que me parecia ser união
Faliu no desabrochar das flores.

"Não idealizarei mais amores
Seguindo em confronto com o vento
Tal um embrulhado cata-vento
Que gira desnorteado do tempo."

Sim, as paisagens são pálidas.
Os caminhos são ávidos.
Você foi um presságio
Das evoluções tropicais.
Daquilo que serei incapaz.
Uma excepcional mente.

:: A ESFINGE ::

Aproxima-se dos limites incógnitos
Que se formaram noutro passado
Onde em luz opala sangrei
O código de um coração.

Seu pensamento sob céu suave
Evola-se sobre alto monte
Protegido de respostas simples,
Encantado de adivinhações.

Sabedoria é o seu mistério.
Que nome daria ao meu coração?
Que não entende o que dissimula
Nos músculos da escuridão.

Sua verdade é a sua adaga.
Seus olhos mar de leões
Que me corrompe nessa madrugada
Naufragada de escuridão.

O sorriso que omiti, agora
Goteja em mina de ilusões
Luzindo dores olímpicas
À maneira das constelações.

Meus sonhos nas suas asas.
Nos céus fecharam os portões.
Eu sei que é um seu feitiço...
Na luz da fresta da solidão.

sábado, 3 de fevereiro de 2007


:: INSÍDIAS ::

Para deflagrar o meu sorriso,
Lampejar na minha inconsciência,
Liderar a força do meu ímpeto,
Comandar a intensidade do meu vício...

Você me propõe uma parceria.
Você apazigua os meus defeitos.
Você ludibria minha alegria.
Você faz as coisas do seu jeito.

Para usufruir minha companhia,
Mobilizar cada ato que manifesto,
Conquistar a simpatia da família,
Cada espaço do meu universo...

Você me conforta ao meio-dia.
Você antecipa os meus lamentos.
Você interdita os meus desejos.
Você compreende o meu enredo.

Para desvendar os meus delírios,
Desmiolar tudo aquilo que acredito,
Segredar o que me torna controverso,
Enfatizar as cores no meu verso...

Você decora os meus sermões.
Você desforra o meu perfume.
Você recria uma identidade.
Você se joga no meu mundo.

Para golpear minhas decisões,
Globalizar as minhas aptidões,
Amenizar a dor de um suplício,
Cavar no meu peito seu abrigo...

Você me impõe suas premissas.
Você arquiteta suas insídias.
Você simula o que necessito.
Você só quer me ter vencido.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007


:: RAVE ::

Delirante é a noite de vozes roucas
Onde podes arder a ânsia dos desviados,
Podes fingir o riso dos desavisados,
Posso sentir o ópio dos apaixonados.

Atravessado em luzes loucas
Seu corpo é como um fio de gente
Eletricamente descontente
Serpenteando sob minha sombra.

Você vem e foge seguidamente
Vibrando no seu olhar entorpecente
Um recato com requintes de terror,
Um receio com resquícios de amor...

E alucina meu coração desabrigado,
Vergando o meu corpo como um arame.
Minha tristeza tem gosto de Artame.
Há loops, há beats, mas não há emoção.

Somente fissura, o meu corpo treme...
Ao ver as curvas na seda cor de sêmem
Agitarem-se no seu ritmo indiferente
Na escalada sufocante da gente.

E o dia amanhece na nossa inconseqüência.
Atordoada, você parte com resistência
Largando-me nos braços dessa realidade,
Onde danço sozinho... e em várias metades.

:: O QUE NÃO SE SABE ::

Nem mesmo sei de você.
O que faz do seu tempo.
Se a vida está a contento.
Do que é que tem fome.
Por onde é que se esconde.
Qual a voz que te cala.
Se anda só pela sala.
E chora ouvindo seus discos.

Nem mesmo sei de você.
Em que idade se encantou.
Quem foi seu último amor.
Se está acima do peso.
Se corre nas ruas bem cedo.
Ou dorme na lua da tarde.
Se dança fazendo alarde.
Quem foi que te revelou.

Nem mesmo sei de você.
Se é feliz com amigos.
Ou só confia em felinos.
Se percebe o que é bom.
Prefere o Sol ao néon.
Se a vida está por um triz.
Quem te fez mais feliz.

Nem mesmo sei de você.
Se gosta mesmo de homens.
Se também é insone.
Se toca algum instrumento.
O gosto do seu sofrimento.
Qual a sua matemática.
O que é que te mata.

Nem mesmo sei de você.
Se viajou no universo.
Se já arriscou alguns versos.
Se tem medo da morte.
Se já contou com a sorte
E se rendeu a paixão.
Se é de libra ou leão.

Nem mesmo sei de você.
Se encontrou quem te importa.
Ou se fechou suas portas.
Se vive um dia frio.
E se você usa colírio.
Se é real ou delírio.
Quem é que te contagia.
Qual é o tom da sua alegria.

Nem mesmo sei de você...
Nem mesmo sei de mim!
Fico desse lado do muro,
Apenas tateando o escuro,
Sonhando a cor da tua chama,
Que reacende essa flama
De imaginar-me feliz.

:: HOMENS-BOMBA ::

Nossos desejos são tão redundantes.
E nos sentimos tão anormais.
Temos receio da voz dos instantes.
Mas de que modo isso nos satisfaz?

Essas cidades tão angustiantes.
Eu não entendo mais os seus sinais.
Até parece que sou um viajante.
Regressando, já não me encontro mais.

O que há de você em mim?
O que ainda subsiste aqui?
Se tudo que abraço eu me desfaço.
Se todo desejo é um pouco lasso.

Não quero acreditar que somos constantes.
É sábia a ciência de sermos desiguais.
Mas essa individualidade beligerante
Não nos ajuda ter um instante de paz.

O gênio trama ações conflitantes.
E nós agimos como dois rivais.
Às vezes o cenário é tão apaixonante...
Noutras vezes não desejamos mais.

O que há conturbado em ti?
O que se contorceu em mim?
Se nossos temores são congruentes.
Se juntos somos sobreviventes.

Sinto esse tempo tão relevante
Embora não me enterneça mais.
Talvez sejamos novos habitantes
De uma aldeia de seres artificiais.

Entoando um hino revoltante,
Nossos lábios parecem tão fatais!
Quem sabe na fria linha do horizonte
Percebamos o valor do Jamais.

O que explode aqui dentro de mim?
O que morre ali fora de ti?
Se parecíamos complementares...
Até esvairmos por esses ares.

:: ABANDONO CASTANHO ::

Então nós dois fomos um.
Mas nosso orgulho - esse ordinário! -
Nos repartiu, agora somos metade
De uma relação superficial.

Então o tempo foi desleal.
Esses lençóis que tumultuam...
Seu desejo tem o ritmo das luas,
O que me deixou confuso e arredio.

Então amar era desafio.
Eu necessitei de outros ares,
Você mergulhou em novos mares,
Eu tão inconstante, você tão sua.

Então fomos uma loucura?
Você me viu em desalinho,
E quando te beijei com carinho
Sentimos medo um do outro.

Então o amor mudou de rosto.
Meus beijos amargaram um novo gosto.
Seu corpo fingiu nos braços de outro.
Noites ausentes, sentidos ignotos.

Então nos tornamos inóspitos.
Você procurando sentir ardor.
Eu finjo que outra faz amor...
E isso nos torna mais próximos.

Então nós dois fomos muitos.
Silenciosos, destilamos insultos.
O veneno do amar é tão agudo!
E nos transformou em dois mundos.

Então somos póstumos.
Ressentidos, esses dias nem lamentam!
Castanha é a cor da experiência.
Ainda que doa, a gente se inventa...

:: À SUA MANEIRA ::

De um jeito estonteante,
Aproximou-se à sua maneira.
Com um ar de quem escapa,
Como se não quisesse nada.

Foi emergindo, eu me envolvendo.
A nossa química nos aglutinou.
Transcendemos à luz do sexo,
Agora sei como se faz amor.

Dias assim são tão impróprios.
Estou aqui, não sei aonde.
Abro uma janela, o Sol te esconde
E vejo um céu tão desbotado.

Meio confuso, descompassado,
O meu relógio nunca me compreende.
Esse vazio de ser carente.
Esse meu estar tão descontente.

Não há notícias, somente esperas.
Quando é que você se importa?
Meu telefone está tão quente...
Eu te aguardo a qualquer hora.

Onipresente, remanescente.
Eu guardei um fio daquele pente.
Ouço seu riso no escuro.
Ter você me fez mais inseguro.

Há vários dias mudaram as luas,
Nenhuma notícia sua me renovou.
O que te preserva e te condiciona
Bem que poderia ser amor...

Que me distrai se não estou contigo.
Em sua pele mapeio o meu delírio.
Uma tatuagem que não cicatrizou,
Seu nome inflama na minhar dor.

E do seu jeito exuberante,
Foi partindo à madrugada,
Com seus olhos cor de opala,
Como alguém que não deseja nada.

:: IDÓLATRAS ::

Conheço a resistência do sentimento
Que fez essa noite germinar assim.
Há tanto tempo eu convivo com isso,
Há quanto tempo você espera por mim?

As situações nos interligam,
O acaso poderia nos salvar...
Mas nossos limites se cruzam e se abalam
E isso ninguém poderá mudar.

Flertando você segue, comovido eu fico.
Sobre os ombros você me enxerga
E sinto isso como um prestígio...
Um passo para trás: sozinho eu fico.

Amarra então o seu cabelo.
Eu vejo tudo e me embaraço.
Saboreia um copo de cerveja.
Há tempos que eu me embriago!

Expectativas não me absorvem mais.
Acostumei-me ao dissabor solitário.
Vamos, essa noite é sua!
Há toda uma tribo do seu lado.

Seu som ressurge em melodias
Realçando nossas vidas em disritmia.
Seu corpo já não sabe para quem arde...
Você é uma multidão com sua arte.

O último refrão e parecemos intactos.
As luzes se apagam sobre o seu palco.
Seu nome eu grito e você me fala
Apenas nos acordes da sua guitarra.

:: RECONHECIDO ::

Rasgava-se o vento no seu sorriso

Numa ocasião que não premeditei.
Estava só... mas não desviei.
Adiantou-se, então, e disse:

- Eu te conheço.

Qualquer nome, qualquer lugar.
São frouxas as memórias,
Tantos momentos suprimidos...
Muitas vezes se esquecer é preciso.

- Eu te conheço.

Soam velhas boas amenidades,
Nervosos clichês inofensivos,
Nenhuma inédita mentira...
Entre nós dois há um estranho abismo.

- Eu te conheço.

Sua mão me alcança sem relutar,
Meus nervos congelam ao lhe apertar.
A mesma dúvida, o confuso perfume.
O seu sotaque a me exaltar.

- Eu te conheço.

Um ocasional comentário bobo
Foi tudo que usei para me safar
Enquanto no púlpito do meu silêncio
Segredos estavam a reverberar.

- Eu te conheço.

Sem mais perguntas para formular.
Nossos desejos fugiram por um abrigo,
Restando os relógios... em desatino.
"Não ouse me abraçar nesse lugar!"

- Eu te conheço.

Sussurrou-me por fim, ao pé do ouvido,
Quase um beijo, o último ruído.
Fui embora sem sequer lhe dar motivo.
E já não me reconheço.