quarta-feira, 14 de março de 2007


:: AOS TÍMIDOS ::

Entre atos envenenados de relutância,
A timidez sonega os nossos desejos
Contaminando expectativas sustentadas
No corpo frio dos nossos receios.

Insistimos na métrica da resistência.
De um lado, você flerta com parcimônia,
No outro, eu recordo minha insônia...
E assim simulamos nossa inocência.

Quando um golpe de dúvida nos captura,
Nunca ousamos reagir diferente.
Nós naufragamos no fosso da gente
Acorrentados numa frialdade soturna.

Nossos ombros fraquejam nas armaduras.
Qualquer gesto em falso é encantamento.
O que restará nas órbitas dos olhos
Quando o instinto se rebelar a contento?

Eu me idealizo na sua aura hipnótica.
Você me sorve em bílis negra com vodca.
Os desejos se apegam em vis detalhes.
Sabemos da trágica arte dos covardes...

Mais trágica ainda essa coincidência
De me reconhecer nos gestos que te apanham,
Na embriaguez dos olhos que se abandonam
Numa absorvente sombra de solidão.

Eu suspiro e tudo parece em vão.
Que maldita sina essa a dos cínicos!
A nostalgia de romper os laços...
Essa incapacidade de manter os vínculos...

2 comentários:

Fiorina Mongiovi disse...

Elton, tu é muito chique! quantas rimas perfeitas, estrofes métricas, tão augusto dos anjos, fernando pessoa, florbela espanca, que languidez antiga e bonita!
tu não é dessa nossa época :)
:*

Unknown disse...

Ai de mim, regido por um serafim...